No dia 23 de novembro, recebemos no Centro de Cultura Social de São Paulo a companheira Aline Maciel para conversar sobre o Golpe, Ditadura e Neoliberalismo no Chile de Pinochet. A atividade contou com a participação de um público pequeno, mas muito interessado e participativo.
Aline começou fazendo um relato do processo histórico anterior ao golpe, realçando os avanços de diversas lutas sociais, como os cordões industriais, vinculando tanto uma luta territorial quanto sindical. Com o acirramento dessas lutas – tendo em vista a criação do Poder Popular que foi apoiado pelo Partido Socialista, mas que também fugia do controle do próprio partido e do Estado -, a vitória eleitoral de Salvador Allende e o medo do Chile se tornar uma nova Cuba o golpe foi dado, encabeçado por setores conservadores da sociedade civil, militares e governo dos EUA.
Com Pinochet no poder de Estado, várias foram as mudanças ocorridas no Chile, tal como o desmantelamento dos direitos trabalhistas, privatizações, censura, perseguições e torturas. O Chile se torna um laboratório para a implementação do neoliberalismo defendido pelos Chicago boys e os reflexos dessas medidas são sentidas até hoje, como o sistema previdenciário chileno – o trabalhador que contribuiu de forma integral recebe apenas 30% ou quando ajudado pelo Estado, no máximo, 45% do total, isso pq a previdência no Chile é gerenciada por um grupo administrador que especula o dinheiro do trabalhador e lucra muito com isso, modelo que aliás querem implementar aqui no Brasil.
Muito mais elementos foram trazidos pela companheira, mas dessa apresentação queria fazer duas reflexões. Primeiro, o neoliberalismo têm como discurso a criação de um Estado Mínimo, que não intervém ou intervém o menos possível na economia. Muito bem, mas pelo que foi discutido as medidas neoliberais só foram possíveis ser implementadas mediante o fortalecimento do próprio Estado, de um Estado interventor no sentido de reprimir os setores ingovernáveis e interventor para se criar uma sociedade submissa, para que se aceite a precarização da vida, o que o filósofo camaronês Mbembe chamou de o devir-negro, onde todo o conjunto da sociedade passa a se tornar a figura do negro escravizado do colonialismo.
A segunda reflexão que gostaria de compartilhar é o papel do Estado ainda quando ele era controlado por Salvador Allende. O presidente marxista eleito, apoiador dos cordões industriais e da construção do Poder Popular, momentos antes do golpe, foi alertado pelos trabalhadores dos cordões que o golpe estava por vir e que deveria-se armar a população para que isso fosse evitado. Allende, confiando na via chilena – transição pacífica para o Socialismo – e ainda muito contaminado de uma perspectiva etapista da história, decidiu não escutar essa fração mais radicalizada da base. Obviamente que não podemos afirmar que por conta desse motivo o golpe foi vitorioso, pois existem muito mais outros elementos em jogo, mas de entender a dinâmica do poder de Estado, mesmo sendo ele socialista ou minimamente progressista.
Partindo de um ponto de vista anarquista, toda forma de poder estatal pressupõe uma hierarquia onde as decisões são tomadas por uma classe política, de cima para baixo. Quando Allende foi eleito a população transferiu sua capacidade instituinte, o que acabou por instituir sua força de emancipação enclausurando-a nas mãos de alguns poucos. Se Allende tivesse escutado as bases, certamente a história teria sido outro…
Enfim… a conversa foi muito boa e a Biblioteca Terra Livre e o Centro de Cultua Social de São Paulo, vão realizar ainda mais eventos até o fim desse ano. Segue os eventos abaixo e estão todxs convidadxs!!!!
Organização e Resistência
Corpo Negro e Periférico: vidas nuas e necropolítica
História da escravidão no Brasil e Luta Antirracista