A Editora Imaginário e a Editora Expressão e Arte acabam de anunciar a publicação de duas novas obras de Élisée Reclus até então inéditas no Brasil. As duas obras fazem parte da coleção de livros de bolso publicada pelas editoras.
Nos próximos dias os livros já estarão disponíveis para compra através do site:
http://editoraimaginario.webstorelw.com.br/
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O ensaio A Indústria e o Comércio, corresponde ao capítulo IX, livro IV, volume VI da obra de Élisée Reclus, O Homem e a Terra, publicado em Paris, em 1905.
“Se os grandes industriais fazem o exército montar guarda diante de seus castelos e de suas fábricas, eles fazem questão igualmente de dispor do arsenal das leis, interpretadas em seu benefício. Embora a escravidão tenha sido abolida oficialmente, não lhes desagradaria absolutamente restabelecê-la, assim como o mostra claramente o exemplo da América do Norte, onde, contudo, a emancipação dos negros foi solenemente proclamada. Evidentemente, os filhos de plantadores, dominados pelo preconceito hereditário, regateiam as condições da liberdade que eles fo ram obrigados a reconhecer, e buscam o melhor possível construir suas chusmas atuais sobre o modelo do tempo passado.”
ÉLISÉE RECLUS
O Brasil e a Colonização
Élisée Reclus, apoiado principalmente nas obras relativas ao Brasil, do médico e explorador alemão, Dr. Avé-Lalllemant, que viveu por muitos anos no Rio de Janeiro e viajou por todo o país na segunda metade do século XIX, compõe-nos sucintamente o mosaico do Brasil império, de norte a sul. Nele, suas peças constitutivas: a questão indígena, a ocupação do território, a escravidão, o descompromisso da casta governamental, as ambições em jogo, a imigração européia passam pela meticulosa apreciação desse grande geógrafo e pensador libertário.
A obra O Brasil e a Colonização foi publicada em duas partes, ambas na Revue des Deux Mondes. A primeira parte, “A Bacia das Amazonas e os Indígenas”, em 15 de junho de 1862; a segunda, “As Províncias do Litoral, os Negros e as Colônias Alemãs”, em 15 de julho de 1862.
“Em geral, as municipalidades das grandes cidades brasileiras, à exceção de Rio de Janeiro, parecem dedicar-se principalmente à construção de edifícios de luxo e negligenciam bastante as melhorias que concernem à higiene urbana. Em Salvador, em Recife, gastaram muitos milhões a fim de construir teatros suntuosos e garantir célebres prima-donas; mas se dedicaram muito pouco à construção de esgotos, tão necessários nesse império da febre amarela; prisões, abomináveis sentinas onde os Howard nunca se aventuraram; hospitais, que os pobres temem com toda razão como antecâmaras da morte. […] Também se poderia censurar os brasileiros por essa ambiciosa imprevidência com a qual eles começam obras que mais tarde a falta de recursos os faz abandonarem. Por toda parte vemos estradas abertas a elevados custos que a vegetação já obstrui e que se vão perder no meio da floresta; em toda parte observamos pontes das quais só restam pilares ou contrafortes inclinando-se sob o esforço das terras, ou, então, semiderrubados pelas inundações; por toda parte fundações de edifícios que deveriam ser esplêndidos, mas cujas paredes que mal saíram do solo só servem hoje aos répteis.”
ÉLISÉE RECLUS