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Leituras Libertárias #03

Olá ouvintes do Antinomia! Neste terceiro episódio do Leituras Libertárias, trazemos uma carta de Maria Lacerda de Moura, destinada a José Felix, publicada no jornal A Manhã do dia 17 de fevereiro de 1929. Nesta carta Maria Lacerda responde aos misóginos elogios feitos a ela por José Felix na edição de 27 de janeiro daquele mesmo jornal. A ideia deste podcast é compartilhar com vocês as nossas leituras sobre história, teoria e práticas anarquista ou que dialoguem com o universo libertário e autonomista.

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Segue abaixo o recorte do jornal:

A mulher é uma degenerada no Correio Paulistano

No dia 11 de novembro de 1924 o jornal Correio Paulistano publicou em sua coluna Livros novos, uma carta de Alfredo Palacios (1878-1965), advogado, professor e militante socialista, em que o pensador argentino reflete sobre a importância da publicação da obra de Maria Lacerda de Moura naquele contexto.

Transcrevemos e traduzimos a coluna e a carta abaixo:

LIVROS NOVOS

“A mulher é uma degenerada” – D. Maria Lacerda de Moura

A propósito do livro “A mulher é uma degenerada”, a que já nos referimos nesta seção, o sr. Alfredo Palacios, decano da Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais de La Plata, enviou a ilustre escritora patrícia d. Maria Lacerda de Moura, autora daquela obra, a seguinte carta:

“La Plata, 29 de outubro de 1924 – Sra. d. Maria Lacerda de Moura – São Paulo – Brasil.

Senhora: Com satisfação li sua obra ‘A mulher é uma degenerada’, na qual alenta um coração apaixonado, aceso em ânsia de justiça e uma inteligência vigorosa, cheia de verdades e inflamada de idealismo.

É um prazer para mim declarar que seu livro constitui, um dos mais sinceros, viris e de maior amplitude espiritual que foi publicado em nossa América nos últimos tempos. A seleta e variada cultura, a solidez de caráter e elevação de olhares que evidencia sua obra são, por si mesmas, a melhor demonstração da tese por você defendida e a refutação mais eficaz da pretendida inferioridade mental da mulher.

Há nesse livro toda a integridade de convicções e ductilidade intelectual que como brasão pode ostentar quem mais digno se julgue do nome de varão.

Se eu não estivesse convencido de que a inferioridade da mulher é uma lenda tão farsa e interessada como a da inferioridade orgânica dos deserdados, haveria me conquistado sua obra e essa doutrina. Já quiseram muitos homens, mesmo aqueles que se destacam entre os intelectuais, poder se expressar com a inteireza e o fogo, a sabedoria e a elegância com que você o faz. Seu livro é um raio de flechas contra o privilégio e a mentira entrelaçado com rosas de graça e de beleza.

O rugido, indignado clamor das ideias modernas circula através de todas suas páginas e ressoa como uma guerreira clarificando contra todas as manchas dos flagelos e preconceitos que assombram a vida. Ondas de chamas de entusiasmo idealista elevam-se de sua prosa projetando a vivida claridade das auroras futuras. Um ímpeto cordial, nascido de uma consciência sem censura e de profundo amor com as vítimas da injustiça social, presta suas páginas a eloquência de uma tocha flamejante no meio da noite. E a riqueza de seu pensamento, penetrando em todo os interstícios do rachado edifício que é a sociedade atual, mostra a mentira poliforme que nos envenena e abre amplos horizontes ao porvir humano pela dignificação da mulher, o enobrecimento do trabalho e a liberação do homem.

Seu livro é fonte de doçura e de esperança para os humildes e acusação implacável e fecunda contra os poderosos. É uma força incoercível do pensamento posta a serviço do Bem e da Verdade.

Que encontrem ressonância suas palavras entre as mulheres e os homens brasileiros, para que comecemos a forjar a nova civilização que se vislumbra já na consciência nascente da América ibera, é o que desejo fervorosamente.

Saúde a você, com a maior consideração e com a estima de um companheiro de ideal. – Alfredo Palacios”.

Promoção Maria Lacerda de Moura

No último dia 18 de agosto o Centro de Cultura Social (CCS) recebeu a atividade de lançamento do livro A Mulher é uma Degenerada, de Maria Lacerda de Moura. O livro fac-similar, publicado pela editora Tenda de Livros, resgata a 3ª edição da obra, de 1932. Além do texto original de Maria Lacerda o livro conta com uma série de artigos de diversas autoras libertárias, como Margareth Rago, Samanta Mendes, Juliana de Vasconcelos, Carolina O. Ressureição, Eloisa Torrão e Marina Mayumi, além de um texto de Fernanda Grigolin, idealizadora do projeto e capa e projeto gráfico de Laura Daviña. O livro acompanha também uma carta a Maria Lacerda de Moura, escrita por Aquela Mulher do Canto Esquerdo do Quadro.

Como forma de dar visibilidade e permitir que a vida e obra de Maria Lacerda de Moura chegue mais longe, a Biblioteca Terra Livre está realizando uma promoção de lançamento do livro. Na compra do livro você leva junto o documentário Maria Lacerda de Moura: Trajetória de uma rebelde (34 min).

O livro pode ser adquirido no botão abaixo:

Ou através do email livrariaterralivre@gmail.com

Para saber mais sobre o projeto do livro acesse: http://tendadelivros.org/marialacerdademoura/

Você encontra os títulos publicados pela Biblioteca Terra Livre em: https://bibliotecaterralivre.noblogs.org/editora/nossos-livros/