Tag Archives: AIT

Comemoração dos 77 anos da Revolução Espanhola

Hoje, 19 de Julho, recordamos os dias de sangue, suor e barricadas que marcaram a história das lutas sociais pela liberdade, travadas na península ibérica, entre os anos de 1936/1939. Se por um lado recordamos esta data como um momento simbólico no processo revolucionário – entendendo que as bases da sociedade anarquistas já estavam sendo criadas desde a AIT (Associação Internacional dos Trabalhadores) em sua seção espanhola – lembramos também que foi a partir desta data que passou a ser praticada de forma ampla e social a autogestão da produção e distribuição de alimentos; do transporte; da comunicação e a coletivização das terras e fábricas.

Como forma de resgatar estes elementos que estavam presentes na Revolução Espanhola disponibilizaremos, em nossa página, ao longo dos próximos dias, filmes que contam a história dos dias de Revolução, seus pressupostos e de suas consequências.

O primeiro filme disponibilizado é Reportagem do movimento revolucionário em Barcelona (1936). O filme é considerado o primeiro documentário realizado pela “Oficina de Información y Propaganda” da CNT, teve suas gravações realizadas entre os dias 19 e o 24 de julho de 1936 e apresenta os primeiros dias do processo revolucionário ocorrido em terras espanholas. A legenda inédita foi criada a partir de um trabalho coletivo desenvolvido pelo Projeto Legendando os filmes da Revolução Espanhola.

Os próximos filmes a serem disponibilizados serão:

Ajuda a Madrid! (1936)*
O tributo das massas a Buenaventura Durruti (1936)*
Viver a utopia (1997)
Indomáveis, uma história de Mulheres Livres (2011)*
Morrer em Madrid (1962)*

* Legendas inéditas realizadas pela Biblioteca Terra Livre

Reportagem do movimento revolucionário em Barcelona

Sinopse:

Este documentário é considerado como o primeiro rodado durante a Revolução Espanhola. Sua filmagem realizada nas ruas de Barcelona entre o dia 19 e o 24 de julho de 1936 e sua produção esteve a cargo da recém criada “Oficina de Información y Propaganda” da CNT. As tomadas foram rodadas por Ricardo Alonso e a direção e comentários foram realizadas pelo jornalista e crítico cinematográfico Mateo Santos, diretor da revista Film Popular e que havia tido sua primeira experiência cinematográfica em 1934 com o documentário “Estampas de España”. Posteriormente seria delegado do Gabinete de Cinema do Conselho de Aragón.

Seu tom exaltado e suas duras imagens causaram impacto nas classes burguesas da Espanha e Europa e foi utilizado pelos fascistas espanhóis e pelas forças reacionárias europeias como contrapropaganda para mostrar a suposta selvageria da República: o Governo da República impotente ante a barbárie vermelha. A própria identidade do filme sofreria todo tipo de distorções e fragmentos dele seriam incorporados a filmes propagandísticos dos sublevados, como Espanha Heróica (1938).

Porém, é um documento histórico de como um povo vai para as ruas para se defender de uma rebelião militar que quer faze-la ficar ainda mais na miséria, ao mesmo tempo que extravasava seu ódio contra seus cúmplices, uma igreja ultrarreacionária aliada desde sempre na Espanha com os exploradores. Se trata de um filme cujo conjunto apresenta um discurso coerente que assimila o entusiasmo da vitória sobre a sublevação fascista e uma virulenta tomada de posição contra os rebeldes para a normalização e reorganização da vida cotidiana de Barcelona.

Podemos ver, na continuação, concentrações para preparar a saída de combatentes desde a frente de Aragón; desfiles de artilharia, ônibus, meios de transporte improvisados de milicianos que uma multidão de barceloneses se despedem lotando as ruas; a liberação dos presos da prisão Modelo. Para, terminar, a câmera, instalada sobre um caminhão, realiza uma breve volta pela cidade mostrando edifícios desde os que tinha iniciado, sob o controle dos sindicatos dos trabalhadores, até a reorganização e reconstrução da normal atividade de Barcelona.

A ideia difundida que se tem da “Reportagem do movimento revolucionário em Barcelona” como uma obra “furiosa e inaceitável” nasce dos fragmentos que aludem a queima de igrejas e as imagens que mostram a entrada principal do convento das salesianas, com suas múmias expostas ao público, embora sejam mais reveladoras e sugestivas as imagens que remetem a comemoração da vitória e ao entusiasmo de se sentirem protagonistas na reorganização da vida cotidiana.

Apesar de tudo, provavelmente seja certo o que disse o historiador e crítico cinematográfico franquista Carlos Fernández Cuenca, criador e primeiro diretor (1953-1970) da Filmoteca Española: “O deplorável espetáculo contribuiria não pouco para frear a ajuda militar da França para a República Espanhola, que nessas imagens lhe tirava a máscara”.

***

Agradecemos a todos que participaram do projeto “Legendando os filmes da Revolução Espanhola” trabalhando na criação do texto de legenda para o filme. O projeto continua, aquelas e aqueles que quiserem mais informações acessem:
http://bibliotecaterralivre.noblogs.org/projeto-legendando-os-filmes-da-revolucao-espanhola/

Mini-curso A Internacional

A Biblioteca Terra Livre promove entre os dias 23 e 24 de junho o mini-curso A Internacional com Alexandre Samis¹, historiador e militante da FARJ. O mini-curso abordará a formação da Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT), seu contexto social, histórico e político, seus congressos – Genebra (1866), Lausanne (1867), Bruxelas (1868) e Basiléia (1869) – até a Comuna de Paris (1871). A atividade ocorrerá no SINSPREV (Sindicato dos Trabalhadores em Saúde e Previdência no Estado de São Paulo) nos dias 23 e 24 de junho, das 14h as 18h. Aqueles que quiserem certificado de participação podem realizar a inscrição por meio do email bibliotecaterralivre(a)gmail.com ou pessoalmente no dia da atividade.

Mini-curso A Internacional
Dias: 23 e 24 de Junho
Horário:das 14h às 18h

A entrada é franca.

Endereço: Rua Antonio de Godoy, 88 – 2º Andar Centro – São Paulo – 01034-000

Materias vistos no mini-curso: AIT e Comuna de Paris

________

¹ Alexandre Samis possui doutorado em História pela Universidade Federal Fluminense (2006). Atualmente é professor – Colégio Pedro II – e militante da Federação Anarquista do Rio de Janeiro (FARJ). É autor dos livros “Negras Tormentas: o federalismo e o internacionalismo na Comuna Paris” (Hedra, 2011), “Minha Pátria é o Mundo Inteiro: Neno Vasco, o anarquismo e o sindicalismo revolucionário em dois mundos” (Letra Livre, 2009) e “Clevelândia: anarquismo, sindicalismo e repressão política no Brasil” (Imaginário/Achaimé, 2002).