Cineclube A Comuna (Paris, 1871)

O Cineclube Terra Livre tem o prazer de anunciar que no próximo dia 24 de março (domingo) realizará, em parceria com o CCS (Centro de Cultura Social), a exibição do filme A Comuna (Paris, 1871), dirigido por Peter Watkins, em celebração a memória dos 142 anos da Comuna de Paris. O filme, realizado na forma de falso documentário, busca apresentar ao longo de suas seis horas de duração as tensões e os anseios vividos pelas e pelos comunalistas nos 72 dias de resistências e lutas dentro da cidade de Paris. Por conta da extensa duração do filme o Cineclube terá início as 15h e contará com um intervalo de vinte minutos no meio do filme para os comes e bebes. No dia haverá café e bolo. Aos que quiserem colaborar comidas e bebidas são bem vindas. A entrada é livre.

Cineclube Terra Livre apresenta:

A Comuna (Paris, 1871), 5h30 de duração, direção de Peter Watkins

Dia 24/03 . domingo . 15h

Local . Centro de Cultura Social – Rua General Jardim, 253 – sala 22 – República.
(A quatro quadras do metro República)

Entrada livre.

As circunstâncias que determinaram o movimento da Comuna foram, apesar de tudo, um fato bastante banal, a débil defesa do governo e o abandono de um parque de artilharia do qual os prussianos, entrando em Paris, poderiam apoderar-se; mas estes foram simples detalhes. A França estava desunida; era preciso que os dois elementos opostos agrupassem-se francamente um com o outro em toda a sinceridade de suas aspirações, em toda a retidão de suas vontades. Foi o que fizeram os comunalistas de Paris, mais conhecidos, como todos os vencidos, por um nome de insulto, aquele de “communards”. É que as condições de perigo supremo, nas quais se encontrava a cidade de Paris, eram de natureza a enlevar os corações. Triplamente cercada pelas tropas alemãs, que teriam se rejubilado com a pilhagem, pelas tropas francesas, que ardiam de vontade de vingar-se das vitórias germânicas sobre os seus compatriotas, e pela massa da nação francesa, que de bom grado teria precipitado-se sobre Paris, foco de incessantes revoluções, a grande cidade não podia esperar vencer, malgrado a imensidão de seus recursos. Nem um único homem tendo alguma noção da história teve a mínima dúvida sobre o desfecho do conflito. Todos aqueles que aclamavam a Comuna, homens experientes das revoluções anteriores ou jovens entusiastas apaixonados por liberdade, sabiam de antemão que estavam destinados à morte. Vítimas propiciatórias, eles deviam à nobreza de seu devotamento, à amplitude de suas idéias, uma gravidade serena que refletia sobre a fisionomia geral de Paris e dava-lhe, nesses dias de resolução viril e completo desinteresse, uma fisionomia de majestosa grandeza que ela nunca tivera. (…)
Condenados de antemão a uma impiedosa repressão, as pessoas da Comuna deveriam ter aproveitado a curta trégua da existência para deixar grandes, incomparáveis exemplos, para começar, para além de revoluções e contra-revoluções, uma sociedade futura liberada da fome e do flagelo do dinheiro. Todavia, para empreender tal obra, teria sido necessário pôr-se de acordo em uma vontade comum e colocar em prática um saber já experimentado. Ora, as revoltas de Paris representavam grupos muito díspares que deviam forçosamente agir em sentido inverso uns dos outros. Entre eles, alguns ainda haviam permanecido em acessos de romantismo jacobino, outros só tinham honestos instintos revolucionários; uma minoria apenas compreendia que era necessário proceder com método à destruição de todas as instituições de Estado e à supressão de todos os obstáculos que impedem o agrupamento espontâneo dos cidadãos. Tudo somado, a obra do governo da Comuna foi mínima, e não podia ser diferente, porquanto ele estava, na realidade, nas mãos do povo armado. Se os cidadãos tivessem sido conduzidos por uma vontade comum de renovação social, eles teriam imposto a seus delegados; mas eles só tinham a preocupação com a defesa: combater bem e morrer bem.” Élisée Reclus (anarquista que juntamente com outras centenas de comunalistas compuseram as barricadas na cidade de Paris no ano de 1871.)

Trecho extraído do livro: Reclus, Élisée. O Homem e a Terra – Internacionais. São Paulo: Imaginário, 2011. p. 44-47.