Malatesta e as eleições

O que fazer depois que as eleições acabaram?

Essa pergunta motivou Errico Malatesta a escrever um texto há mais de cem anos. Uma questão que todos nós, anarquistas, devemos levar em conta: a propaganda antiparlamentar deve ser respaldada por ações concretas. Recomendados a leitura do texto abaixo para refletirmos sobre nossa ação política:

O Dever de honra
Publicado em L’Agitazione, Roma – 22 de setembro de 1901.
(Retirado de “Anarquistas, Socialistas e Comunistas”, Ed. Imaginário, 2014)

Acabaram as eleições.

Nós – quer dizer, todos os companheiros – fizemos tudo o que podíamos fazer para explicar ao povo esta trapaça que é a luta eleitoral, assim como seus danos. E trabalhamos bem. Mas agora nos compete um outro dever, e mais importante: mostrar – pelos fatos, obtendo resultados – que nossa tática é melhor do que a dos parlamentaristas; e que não somos simplesmente uma força negativa, mas queremos ser e somos uma força ativa, operante, eficaz, na luta pela emancipação do proletariado.

Combatemos os socialistas parlamentares e temos razão porque, em seu programa e em sua tática, há o germe de uma nova opressão. Se algum dia eles triunfassem, o princípio de governo que conservam e reforçam destruiria o princípio de igualdade social e abriria uma nova era de luta de classes. Mas, para ter o direito de combate-los, devemos fazer melhor do que eles.

Ter razão em teoria, sonhar com ideais superiores, criticar os outros, prever as consequências de programas incompletos e contraditórios, isto não basta. Mais ainda, se tudo se limita à teoria e à crítica e não serve de ponto de partida a uma atividade que procure e que crie as condições para pôr em obra um programa melhor, nossa ação corre o risco, ao contrário, de ser nociva na prática, entravando a ação dos outros, e isto para a grande vantagem de nossos inimigos comuns.

Impedir, por nossa propaganda, que o povo envie ao Parlamento, socialistas e republicanos (levando em conta que aqueles que são os mais acessíveis à nossa propaganda são precisamente os que, sem nós, votariam em candidatos antimonarquistas) é muito bom, se soubermos fazer, daqueles que arrancamos do fetichismo da urna, combatentes conscientes e ativos da emancipação verdadeira e total.

Caso contrário, teríamos servido, serviríamos aos interesses da monarquia e dos conservadores.

Pensemos todos nisto. Trata-se do interesse de nossa causa, de nossa honra, como homens e partido.

A propaganda isolada, ocasional, que frequentemente é feita com o objetivo de acalmar sua consciência, ou para dar simplesmente livre curso à sua paixão pela discussão, esta propaganda não serve para nada ou quase nada.

Ela é esquecida, perde-se antes que seus efeitos possam somar-se uns aos outros e tornar-se fecundos, tendo em vista as condições de inconsciência e de miséria das massas e, por outro lado, todas as forças que nos são contrárias. O terreno é muito ingrato para que sementes lançadas ao acaso possam germinar e produzir raízes.

É necessário um trabalho contínuo, paciente, coordenado, adaptado aos diferentes meios e às diferentes circunstâncias. É preciso que cada um de nós possa contar com a cooperação de todos os outros, e que em todos os lugares onde um grão tiver sido lançado, não falte o trabalho assíduo do jardineiro para cuidar dele e protege-lo até que ele tenha se tornado uma planta capaz de viver por si mesma e, por sua vez, espalhe novos grãos fecundos.

Há, na Itália, milhões de proletários que ainda são instrumentos cegos nas mãos dos padres; há milhões que odeiam o patrão com um ódio intenso, mas que estão persuadidos de que não se pode viver sem patrões e não sabem imaginar nem desejar outra emancipação senão a de tornar-se patrões, por sua vez, e explorar seus companheiros de miséria.

Há regiões imensas – exatamente a maior parte da superfície da Itália – onde nossa palavra jamais chegou, ou não deixou marcas sensíveis caso tenha lá chegado.

Existem organizações operárias, poucas, é verdade, às quais somos estranhos.

Desencadeiam-se greves onde, não preparados ou tomados de surpresa, não podemos nem ajudar os operários no combate que eles realizam, nem aproveitar a excitação dos espíritos para nossa propaganda.

Eclodem motins, quase insurreições, e nenhum de nós o sabe.

Há também a perseguição; aprisionam-nos, deportam-nos às centenas e aos milhares e encontramo-nos impotentes, não somente para reagir, mas até mesmo para atrair publicamente a atenção para as infâmias das quais somos vítimas.

Ao trabalho, companheiros! A tarefa é grande. Ao trabalhos, todos!

Antinomia #47: Como anarquistas votam?

As eleições chegam ao segundo turno em algumas grandes cidades. Os ânimos políticos se exaltam, em especial naqueles contextos em que a disputa ocorre entre candidatos de direita e esquerda. Em um contexto de disputa entre polos políticos opostos, como anarquistas votam? Quer saber? Nesse episódio recebemos o Suna do Desobediência Sonora e da OASL para conversar sobre as eleições. Vem com a gente!

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Leituras Libertárias #26: O Triste Fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto


Olá a todos e a todas ouvintes do Antinomia, sejam mais uma vez bem vindos e bem vindas ao Leituras Libertárias, projeto que busca compartilhar um pouco com vocês as nossas leituras sobre a história, teorias e práticas do anarquismo. Hoje nós vamos fazer a leitura do trecho do livro “O Triste Fim de Policarpo Quaresma”, de Lima Barreto, publicado originalmente em 1915, neste trecho, Lima tece críticas ao patriotismo do protagonista. Boa Leitura!

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Antinomia #46: Ocupação das Escolas

A memória das lutas é algo frequentemente esquecido quando se tratam das lutas autônomas e libertárias dos de baixo. No último dia 9 de novembro se completaram 5 anos da primeira Ocupação de Escola, uma luta de secundaristas que através da ação direta conseguiu fazer o governo do estado de São Paulo recuar em seu projeto de fechamento das escolas. No episódio de hoje recebemos Be, da coletivA ocupação, para contar como ocorreu esta luta vitoriosa de estudantes e os desdobramentos das ocupações. Vem com a gente!

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Leituras Libertárias #25: Canção de Amor de uma Negra, de Elean Thomas

Olá a todos e a todas ouvintes do Antinomia, sejam mais uma vez bem vindos e bem vindas ao Leituras Libertárias, projeto que busca compartilhar um pouco com vocês as nossas leituras sobre a história, teorias e práticas do anarquismo. Hoje nós vamos fazer a leitura do poema Canção de Amor de uma Negra, da professora jamaicana, jornalista e poeta Elean Thomas. O poema foi extraído do “livro Alfabetização Cultural a luta íntima por uma nova humanidade” de Dan Baron. Apesar de não fazer parte do campo anarquista, Elean Thomas canta a liberdade no seu poema, melodia esta que todos os e as anarquistas cantam com ela também.

Nota: No poema existem duas palavras referente À história da Jamaica, backra-massa significa latifundiário e backra-missus, significa a esposa do latifundiário.

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