O ANARQUISMO NA REVOLUÇÃO RUSSA, por Daniel Guérin

O anarquismo, depois de haver descoberto uma segunda fonte de inspiração no sindicalismo revolucionário, encontrou uma terceira na Revolução russa. Esta afirmação pode, à primeira vista, surpreender o leitor habituado a considerar a grande mutação revolucionária de Outubro de 1917 como obra e apanágio exclusivo dos bolchevistas. Na realidade, a Revolução russa iniciou-se por um vasto movimento de massas, uma onda de base popular que submergiu as formações ideológicas. Não pertenceu a ninguém, senão ao povo. Na medida em que esta revolução foi autêntica, impulsionada de baixo para cima, produzindo espontaneamente órgãos de democracia direta, apresentou todas as características de uma revolução social de tendências libertárias. Todavia, a relativa fraqueza dos socialistas libertários russos impediu-os de explorar as condições excepcionalmente favoráveis à vitória das suas ideias.

A Revolução foi, por fim, confiscada e desnaturada pela maestria, dirão uns, astúcia, dirão outros, da equipe de revolucionários profissionais agrupados à volta de Lenin. Mas esta derrota para o anarquismo e para a autêntica revolução popular não foi inteiramente estéril para as ideias libertárias. Para começar, a apropriação coletiva dos meios de produção foi realizada, o que permitirá, um dia, que o socialismo de baixo para cima venha a prevalecer sobre o capitalismo de Estado; depois, a experiência da URSS proporcionou aos anarquistas russos e de outros países a possibilidade de extrair lições complexas de um temporário fracasso — lições das quais o próprio Lenin parecia ter tomado consciência pouco antes de falecer — e a possibilidade de reformular os problemas da revolução e do anarquismo no seu conjunto. Segundo a expressão de Kropotkin, retomada por Volin, a Revolução ter-lhes-ia ensinado, se necessário fosse, como não se deve fazer uma revolução. Longe de provar a impraticabilidade do socialismo libertário, a experiência soviética, em larga medida, confirmou o contrário, a precisão profética dos pontos de vista expressos pelos fundadores do anarquismo e, nomeadamente, da sua crítica ao socialismo “autoritário”.

1 – UMA REVOLUÇÃO LIBERTÁRIA

2 – UMA REVOLUÇÃO “AUTORITÁRIA”

3 – O PAPEL DOS ANARQUISTAS

4 – A “MAKHNOVITCHINA”

5 – KRONSTADT

6 – O ANARQUISMO MORTO E RESSUSCITADO