A Biblioteca Terra Livre divulga o comunicado proposto pelos companheiros da IFA (Internacional das Federações Anarquistas) e da FA (Federation Anarchiste Francófona) denunciando a colaboração do governo francês com os processos repressivos no Brasil. Leia o documento abaixo ou baixe em PDF. Em outras línguas pode ser acessado no site da IFA: francês, inglês, italiano e espanhol.
Não à cooperação policial! Viva a solidariedade internacional!
No final de novembro de 2013, a polícia francesa, a CRS (Companhia Republicana de Segurança), ofereceu um treinamento ao Batalhão de Choque (BPCHq) da Polícia Militar do Rio de Janeiro após as manifestações que ocorreram em diversas regiões do Brasil nos últimos meses.
O objetivo desse intercâmbio entre as duas forças policiais era a troca de informações sobre como agir em motins, “atos de vandalismo”, controle de “grupos violentos” e outras depredações registradas, tendo em vista os eventos como a Copa do Mundo de Futebol, que ocorrerá em 2014, e os Jogos Olímpicos, em 2016.
A polícia francesa, ao que parece, é especializada na gestão de movimentos de protestos e no controle de multidões. O governo francês já demonstrou no passado sua agilidade para dar apoio repressivo e militar:
- Durante a “Operação Condor”, que consistiu em uma “contrarrevolução preventiva” por parte das ditaduras da América do Sul na década de 1970, levando à morte e ao desaparecimento de milhares de oponentes políticos. A polícia francesa trouxe a sua experiência (torturas, técnicas de contraguerrilha, vigilância de bairros) herdada da guerra na Argélia. Isso se traduziu, especialmente, nas ações dos chamados “esquadrões da morte”.
- Mais recentemente, o governo francês ofereceu seus serviços para intervir na Tunísia, no início da revolução, para ajudar o regime na repressão aos movimentos de contestação. A França também enviou o equipamento policial para Ben Ali.
- Em 2010, a polícia francesa interveio no Egito junto aos oficiais de aplicação da lei pública e segurança do Estado para ensiná-los “a gestão de multidões e de grandes eventos”.
- Isso sem mencionar as intervenções militares na África e em outros lugares…
O estado policial sempre fez e continuará fazendo de tudo para sufocar e reprimir os movimentos de contestação no Brasil, no México, na região do Magreb e em outros lugares. No Brasil, as somas envolvidas nos projetos faraônicos da Copa do Mundo entram em confronto com a realidade de uma população que luta por direitos, por uma maior igualdade e justiça sociais.
Nossa resposta deve ser a construção de uma solidariedade concreta contra a repressão policial, contra a miséria e a exploração.
Condenamos fortemente essas políticas repressivas, e convidamos todas as organizações libertárias para se juntarem a esses movimentos de resistência para oferecer ajuda, apoio logístico e técnico, divulgar suas ações e estabelecer redes de solidariedade contra a repressão policial.
Internacional de Federações Anarquistas, dezembro 2013
Signatários : Federação Anarquista (França), Biblioteca Terra Livre (Brasil), Internacional de Federações Anarquistas (IFA), El Libertário (Venezuela). Aberto a novos signatários…